domingo, 8 de outubro de 2017

O tudo bem não serve pra nada


- Oi, tudo bem? 
- Tudo. 

     “Mas não estava tudo bem”, diria o narrador caso presenciasse a cena das nossas ficções diárias. Não posso culpá-lo. Nem a ele e nem às pessoas. Culpo a mim mesmo por me pegar pensando a respeito de como o “tudo bem” diz tanto ao mesmo tempo que diz nada. Eu imagino que tenho essa coisa com a linguagem, quero que ela faça sentido sempre que possível. O papel camaleão do “tudo bem” é um desses em que as significações saíram de controle. 
 

     Todos sabemos: o “tudo bem” é um cimento social, assim como tradições, culturas, gastronomias etc. Ele representa a primeira camada de gelo que se quebra quando se quer/necessita iniciar uma conversa (prova-se o caráter social). Por vezes, não se sabe ou não se tem o que dizer, e com isso, o “tudo bem” serve em qualquer ocasião, mesmo que depois dele as pessoas envolvidas na conversa não tenham mais o que dizer. Ou então, quando se entra num elevador e, por mera educação, pergunta-se se está tudo bem àquela pessoa que dividirá o mesmo metro cúbico durante um trajeto de poucos segundos – e a conversa morre ali mesmo, não tem mais necessidade dela.
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