domingo, 16 de dezembro de 2012

Darwin estava errado

    Hoje eu acordei ao som dos fogos de artifício e buzinaço em comemoração ao título mundial pelo Sport Clube Corinthians Paulista. O mundial de clubes desse ano contou com o vencedor da libertadores do começo desse ano de 2012, que ganhou vaga no campeonato sulamericano ao vencer o campeonato brasileiro do ano passado. Foram muitos jogos, muita preparação, muita roubalheira, muita decepção (alguém ainda consegue acreditar que o Corinthians perdeu pro Boca Juniors? Eu não) e hoje a saga chega ao fim. Não é disso que venho falar.

   Os torcedores, a.k.a. Bando de Loucos™, foram em massa acompanhar o Timão em terras orientais em busca do título conquistado hoje. O apoio do torcedor é fundamental para o bom desempenho do time. Ou é o que eles querem que acreditem. Então, teve muita gente vendendo um rim para poder passar esses dias no Japão. Se pudesse vender um pulmão, também o faria. Deixou casa, mulher, filho, emprego, gastou uma fortuna que muitos não tinham (e ainda vão demorar mais 60 meses para terminar de pagar), tudo isso "só" pra incentivar o seu time do coração. Pra quê? Pro time ganhar um título. Não, o torcedor não ganhou nada além de despesa e, vá lá, uma experiência no exterior.

    Futebol causa uma união social muito forte. À primeira vista, não serve pra nada, mas tem um fator de identificação quando o outro próximo a você também tem um time que sofreu derrota, vitória, ou ainda apenas para sacanear o torcedor do time rival. E também ser sacaneado, quando for possível. Nesse ponto, Darwin tinha razão. São seres que se unem para uma melhor convivência, e por consequência adaptação, ao meio em que vivem. Porém, torcer para um time, ainda mais de forma insana e autodegradante, não é condição nenhuma para um melhor convívio social. Pelo contrário, é burrice vender até a alma para ver o seu time do outro lado do mundo e ainda por cima de orgulhar de ser mais um do bando (de loucos). Vai, Corinthians? Que vá, mas me deixa na minha.


O sempre totalmente excelente  Will Tirando




-G-
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sábado, 15 de dezembro de 2012

O excêntrico vizinho que ouvia Vivaldi

    Mesmo tendo relativo pouco tempo de vida, eu já morei em muitas casas. Ao contrário de certas pessoas que passam a vida inteira no mesmo endereço, na mesma rua, no mesmo quarto. Eu não consigo me imaginar numa vida assim. Claro, todo mundo tem os seus motivos, sejam eles para ficar e eu para sair. Os quais, aliás, não vêm ao caso.

    Essa vida de constantes mudanças é ingrata e sem raízes. Por outro lado, sempre acabei conhecendo muitas pessoas. Por outro lado desse outro lado de antes, raramente aprofundei relações com elas. Como tudo na vida, há um lado bom e um lado ruim. Por exemplo aquele moleque de três anos de idade que tem uma vizinha da mesma idade e que diz que eles são namorados. Caso não ocorra nenhum imprevisto de não terem o caminho separado, muito provavelmente eles vão sim ter algum relacionamento quando ficarem mais velhos. Não digo a respeito de casmurrice, digo de vida real, mesmo e de verdade. Já eu... é, eu não tive uma namoradinha que morava na casa ao lado desde criança.

    O que eu tive, na verdade, foram muitos vizinhos com os quais eu não trocava nada além de um "bom dia" no elevador ou um "tio, minha bola caiu no seu quintal" quando era moleque e não morava em apartamento. Um desses vizinhos, aliás, era muito peculiar. Tá certo que eu não sou a melhor pessoa do mundo, e quem sou eu pra julgar alguém senão ninguém. Mas tem certas coisas que a gente espera das outras pessoas, e elas de nós.

    Por exemplo, se o seu vizinho ouve qualquer tipo de música popular com som alto a ponto de você ouvir da sua casa. Tudo bem, ele está sendo idiota e violando suas cavidades auditivas, mas ainda assim, é uma pessoa minimamente normal. Deve ser, ainda, do tipo que vê futebol na TV, tem um carro semi-usado e vota no PT. Não me julguem pelo esteriótipo, é apenas uma suposição.

    Agora, uma vez, tive um vizinho e de novo o que apresentarei não são nada além de suposições que tive conforme eu convivia no apartamento ao lado. Convenhamos, ninguém bota música clássica no talo e acha isso normal. Ninguém, jamais, coloca Beethoven, Vivaldi, Mozart, Bach, Ravel, Handel, Chopin, etc; pra tocar na beira da praia enquanto bebe cerveja e vê as meninas passando no doce balanço a caminho do mar. Por alguma razão que não faço ideia, música erudita é sinônimo de gente estranha. Acho bobagem, eu até gosto, acho que Tchaikovsky apavora, mas não dá pra ouvir como se ouve um pagodão enquanto se come feijoada. Ou ainda botar nos amplificadores e achar isso normal.

    Meu vizinho o fazia.

    Ele tinha hábitos pouco comuns. Eu mesmo quase não o via. O porteiro da noite diz que ele só saía de casa entre 03h e 05h da madrugada, precisamente. E não falhava: às 14h ele começava a ouvir música. Ouvia um concerto inteiro e então voltava para fazer sabe-se lá o quê que ele fazia em sua solidão. Não trabalhava, não tinha esposa, filhos, não era visto com outras mulheres. Eu sei que eu sou estranho, mas ele consegue ganhar de mim de longe. Sem contar que, obviamente, no dia da troca da estação ele ouvia um dos movimentos de Vivaldi. O meu preferido, caso seja de seu interesse conhecer, é o de inverno.

    Mas ele não morou muito por aqui a ponto de eu ouvir o seu LP inteiro. Durou apenas três estações. Um dia eu chegava do trabalho e suas coisas estavam pelo corredor, em processo de mudança e evacuação do apartamento. Claro, não era tudo que estava por ali. Até porque, como eu tenho experiência nisso, os últimos objetos a saírem da casa são os móveis. Pelo corredor havia caixas e mais caixas, empilhadas e com a palavra FRÁGIL escrita à mão, em letras 'grandes e garrafais' e cheia de floreios. Pensei cá com os meus botões enquanto entrava pela minha porta que, por mais que escrevamos o quão cuidadoso o pessoal do caminhão tem de manusear as caixas, eles nunca têm o devido cuidado. Nunca. Muito provavelmente porque não são itens pessoais deles. Ou não são tão frágeis quanto nós damos o devido status. Vai saber.

    Fato é que ele foi embora e eu não percebi. Só notei mesmo no dia seguinte, quando saía para o mercado de tarde e não tocava música alguma do apartamento ao lado do meu. Mudou e eu nunca mais o vi. Vai ver foi tocar em outra vizinhança. O calendário marcava 21 de junho.


-G-
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sábado, 1 de dezembro de 2012

Imagina na Copa

    Não é novidade para ninguém que me conhece que eu sou absolutamente contra a Copa do Mundo ser realizada no Brasil em 2014 enquanto há outras coisas muito mais impostantes a serem discutidas e realizadas. Aliás, qualquer um com o menor senso percebe isso. Já que há pouco houve a distribuição das chaves para a Copa das Confederações e divulgação do nome da bola dessa copa, eu resolvi vir tecer uma coisa ou outra (houve também uma apresentação do Arlindo Cruz e da Maria Gadu cantando Jorge Ben, afinal o evento foi transmitido para quase quarenta países e a brasilidade musical não poderia faltar).

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