domingo, 24 de agosto de 2014

Questionário Existencialista


    Certa vez, num caderno de uma criança na 4° série:

01) Quem é você?
02) O que você olha no espelho?
03) Qual a sua ambição?
04) O que você quer agora?
05) Como você gostaria de morrer? Com que idade?
06) Teria filhos?
07) Casaria?
08) É possível um dia sem mau humor, mesmo que momentâneo?
09) Como você se vê daqui 10 anos?
10) Como você se projetava no futuro 10 anos atrás?
11) Qual é a moeda de troca da vida?
12) O que você adoraria fazer mas ainda não fez?
13) O arrependimento é um fardo ou uma conquista?
14) O que é a loucura?
15) Em quem você acredita?
16) Confiança é como cristal, que uma vez quebrado não volta a ser como era?
17) Quem é o maestro que rege na batuta da orquestra do universo?
18) O que é a vida?
19) Feche os olhos. O que você vê?
20) O que tem abaixo da sua corda-bamba?
21) Você guarda suas memórias com carinho ou prefere não pensar nelas?
22) Qual é o gosto do arco-íris?
23) Escolha ou consequência?
24) Quantas lágrimas cabem em um sorriso?
25) Como você tem certeza de que está vivo e que isso aqui não é uma morte?
26) Em qual idioma se interpreta o mundo?
27) O que corrói a angústia?
28) A liberdade é uma utopia?
29) Quem você sabe?
30) Ficaria comigo?



-G-
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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Deforma Ortográfica

    O idioma português mal saiu de uma reforma ortográfica, que entraria em vigor a partir de 2009 mas foi adiada para 2016, e já existe outra engatilhada se depender do senado brasileiro, dessa vez bem mais agressiva. A ideia da outra reforma, que surgiu na década de 1980 e só entrou nos finalmentes, com assinatura brasileira do então presidente Lula e de todos os países lusófonos em 2008, era a de unificar as ortografias. A superficialidade mostra: é um jeito de eu aqui no Brasil me comunicar, por escrito, de forma fácil com alguém de Portugal ou de Angola. Não só eu, mas mais importante ainda é a redação de documentos oficiais e obras de interesse público, o fato de haver duas línguas era um empecilho. O que ela não mostra são os interesses políticos e editoriais. Desde 2009 todas as editoras, inclusive as que fornecem material escolar para as escolas do governo, tiveram de reescrever, reimprimir e revender. Guias do tipo "aprenda a escrever pela nova ortografia" foram vendidos, bem como torrentes de dicionários "atualizados com a reforma ortográfica". Ninguém quer "escrever errado". Mesmo que você pense que ninguém mais usa dicionário hoje em dia, isso não só não é verdade como eles migraram de formato: passaram de monumentos colossais para aplicativos de smartphone ou de computador, sem contar os que são online. E, principalmente, o que a superficialidade da reforma não mostra é, inclusive, o óbvio: é um problema linguístico e não político. "As línguas são como são em virtude do uso que seus falantes fazem dela, e não de acordos de grupos ou decretos de governo" (Houaiss, 2008).

    Não é novidade que a América, o novo mundo, é o celeiro da Europa. Junto com a colonização vem a língua do colonizador. O Brasil pegou o idioma de Portugal, boa parte da América Latina e central teve influência espanhola, mesmo o Haiti foi colonização francesa e a Inglaterra empossou o que hoje é os Estados Unidos. Só para ficar nesses quatro exemplos de "dois idiomas", um na colônia e outro na metrópole, com eles os idiomas também são diferentes, existem variações ortográficas e não existe interesse em unificação, pelo menos não que eu saiba. Acontece com o inglês, o espanhol, o francês e o português que nos é vivido.

Falta uma reforma que una todas as tribos como foi a da língua portugosa (Porto, Portugal, 1911)
    Não vou me ater aos prós e contras das reformas, nem fazer um percurso histórico de reformas passadas e menos ainda de como o latim se transformou em português brasileiro. O que eu quero apontar, nesse momento, é o seguinte: na história da língua portuguesa existem três grandes ciclos: o da ortografia fonética (séc XIII ao XVI), o pseudoetimológico (séc XVI até 1904), e a fase simplificada que dura até hoje. Quero me ater ao primeiro ciclo: o que essa atual proposta faz nada mais é do que voltar à ortografia fonética, escrever do jeito que se fala, deixando de lado a etimologia das palavras.

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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Senso Comum, Desvio Padrão

    Hoje eu ouvi num programa de rádio uma dessas listas sobre aspectos das pessoas que um grupo de pesquisadores julgou interessante obter respostas. A pesquisa listada em questão era "coisas que mulheres acham que deixam homens feios", bem como a sua contraparte, o vice-versa homem-mulher. Em casos assim, de divulgação de estatísticas inferenciais, os comentários antes dos comentários acerca dos resultados geralmente são "um grupo de pesquisadores que não tinha o que fazer, provavelmente da Inglaterra (porque todas as pesquisas vêm de lá)". Não, eu não vim diminuir o trabalho, por mais que algumas pessoas deturpem os termos "ciência" e "pesquisa" ao resumir o campo de atuação relevante em "coisas que servem para alguma coisa", geralmente na área das exatas porque, afinal, para eles, humanas não servem para nada. Vocês sabem o tipo. O intuito desse tipo de exploração é estabelecer curva de Gauss, uma distribuição normal. Um ponto no gráfico da população consultada que diz "olha, as pessoas acham mais isso e não aquilo". É interessante saber o que se passa na cabeça das pessoas, por mais dispensável que você acredite que seja. Se não fosse por isso, por haver interesse em saber no que os outros pensam, não existiria a fofoca, por exemplo, que nada mais é do que saber o que se passa com um terceiro e, como consequência, julgar os seus atos porque estes são um reflexo de seus pensamentos, e mais ainda, é simplesmente impossível não haver julgamento, qualquer que seja. O que é possível, sim, é lidar com o jeito que esse julgamento ocorre, seja de forma agressiva, como num denegrimento via fofoca, seja guardando a nova informação sobre o outro para si mesmo.


    Pois bem, a pesquisa. Em algum lugar dela foi lido que as mulheres que participaram da enquete disseram que homens com barba são feios, elas disseram não gostar de barba. Bom, se eu der uma lida a qualquer momento na timeline do Twitter eu vejo que se as meninas/mulheres de lá fossem os sujeitos do levantamento em questão, ao menos no quesito barba, o resultado seria o oposto. E é aí que eu quero chegar. O grupo analisado no estudo lido estava em algum lugar no mundo e em algum tempo na história e não representa o total de pessoas existentes no planeta. Representa, sim, o suficiente para ser estatisticamente relevante. Naquele lugar. Naquela época. Hoje, no Brasil, para as pessoas com quem eu me encontro na internet, que também não representam a população mundial, barba é algo bom. Até demais.

    O gráfico explica: a normal, o que foi colhido, é que as mulheres não gostam de homens barbados. Elas correspondem à letra B na curva acima, que poderia corresponder, dentro de um gráfico, à seguinte interpretação: o eixo X horizontal é o número de pessoas sondadas e o eixo Y vertical seria o quanto essas pessoas NÃO gostam de barbas, a intensidade negativa desse gosto. Os pontos A e C correspondem a pessoas que gostam de barbas ou que simplesmente não ligam, pra elas tanto faz. Mas a maioria delas não gosta nem um pouco de barba, por isso o ápice da curva se dá em B.

    O que eu quero dizer com isso tudo é: não desmereço os estudos que procuram entender como um determinado grupo de pessoas no espaço/tempo pensa, e sim, apontar que os resultados delas, por mais curiosos que sejam, não representam a totalidade, e arrisco dizer, nunca o farão. Bato de novo na tecla que existem sete bilhões de pessoas no mundo e esse número aumenta todo dia. Dentro desses bilhões, os mais diferentes tipos de pensares se encontram, sejam eles A, B, C ou ξ, Ю e até mesmo . Existem pessoas que gostam de barba, que não gostam, que são indiferentes, bem como suas variáveis adverbiais: muito, pouco, nada, bastante.

    E acima de tudo existe o outro lado. O lado da pessoa alvo do tema em questão, no caso, o homem (e a mulher, na paralela, que segundo os homens não gostam delas usando maquiagem e, até onde eu saiba, elas não estão nem aí sobre o que eles pensam, que é algo a ser refletido ao fim desse parêntese). O que ele enquanto indivíduo pensa sobre barba em sua face? ELE gosta? ELE usa? ELE só deixa crescer porque vê no Twitter que muitas pessoas do sexo feminino dizem gostar de barba e com isso ele acredita que assim terá uma chance maior com elas? Será que ele pelo menos sabe do que realmente gosta ao invés de ir pela corrente de como os outros pensam? Isso é mais importante do que pesquisa alguma. É se compreender, o que não é nada fácil, a ponto de saber do que gosta e do que não gosta independente de opinião alheia. Suponhamos que a gaussiana da investigação valha a nível mundial, que não, que o maior número de pessoas do sexo feminino no planeta não gosta de barbas. Essa é a busca pela normalidade, por isso ela é chamada de distribuição normal, é um padrão. Um padrão que é composto de um centro, grande, de pessoas que não gostam de barbas. E de extremidades, menores, de pessoas que gostam. Agora é hora de fazer um exercício de introspecção: supondo que o sujeito masculino do exemplo odeie barba, ele então vai agradar a maioria ou vai agradar a si mesmo? O que é mais importante: você mesmo ou como os outros o veem? Não sou eu quem respondo a não ser por mim e você responde por você. Cada um por si atrás daquilo que lhe interessa.

    O senso é comum mas não é tudo.



-G-

PS: Colaborou na revisão do texto a totalmente excelente matemática Bel Petit do blog Coisas de Petit.
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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Rage Sex

    Sexo é bom até quando é ruim, dizem. E fazem. Em geral, o brasileiro vive num ambiente altamente sexualizado desde tenra idade. A criança acompanha o pai até um bar onde tem cartazes de cerveja com mulheres gostosas, usando pouca roupa, que provavelmente não bebem cerveja. No caminho para casa, um outdoor com a capa da Playboy do mês. Enfim em casa, o simples horário de veiculação dos programas de TV não é suficiente para evitar que estes sejam vistos pelo pequeno.

    Não quero ser careta ao proibir esse tipo de veiculação e nem soar alarmista dizendo que todo mundo só pensa em sexo, mesmo antes de saber o significado dele. É preciso que o tema não seja tabu nas famílias, havendo um jogo aberto e sem represálias a pessoa consegue se desenvolver mais consciente de tudo o que o cerca nesse fascinante mundo sexual.

    Nem sempre isso é suficiente e ainda assim as pessoas pensam com suas genitálias, seja pela mentalidade, seja pela idade, seja pelo instinto materno/paterno, o que for. Ao agir assim acaba-se na banalização do sexo. Não que seja um problema, de novo, as pessoas fazem com seus corpos o que bem entendem. Só que é exatamente aí onde eu quero chegar: geralmente elas não entendem, não sabem o real motivo de agirem de tal forma.

    Não sabem pelo fato que sexo não é só o esfolamento de virilhas. É bem mais profundo que isso, com o perdão do trocadilho heterocômico. Exige algo que pouquíssimas pessoas têm, ainda mais com tão pouca idade: autoconhecimento. E eu não digo apenas físico, que se resolve, a priori, com masturbação. Eu digo um autoconhecimento real, bem dentro do pensamento mais íntimo e obscuro do consciente. Sexo é uma manifestação afetiva dos corpos e em se tratando de afeto, por mais amplo que possa ser, obrigatoriamente se trata de sentimentos e sentimentos são difíceis de lidar.

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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Mais uma sobre o sentido da vida

    São muitos os possíveis sentidos da vida, se é que existe algum que seja perfeito, ou ainda, se é que existe a possibilidade de se encontrar algum. Por ser algo tão fascinante é inadmissível a falta de uma motivação. Entre tantos outros estão aqueles que dizem que o sentido é perpetuar a espécie, ou ter bons momentos enquanto se vive ou se relacionar fisicamente o máximo possível com outras pessoas, do sexo oposto ou do mesmo. Ou nenhuma dessas. Pois bem, havendo a possibilidade de existirem tantas definições vou colocar mais uma: o sentido da vida é ter lembranças. O que é o homem senão um amontoado delas?

São tantas emoções definições
    Veja, o passado é reconfortante, é seguro; pelo motivo que ele é estático. Já passou, ficou pra trás, não tem como mexer. As memórias, boas e ruins, estão todas lá. Até mesmo algo que antes parecia terrível, como um fim de relacionamento, depois que passa não dói tanto como na hora, embora não deixe de ecoar pro resto da vida de algumas pessoas. Lá atrás está todo o caminho que seguimos pra chegarmos no que se é hoje, bom e ruim, importante ou não. As lembranças são o cinzel que lapida ao longo de todas as vidas o mármore do existir.

    Não vou negar, a TV estava no Vídeo Show que falava sobre a estreia da nova novela das 18h, Boogie Oogie, que se passa nos tempos das discotecas dos anos 70. Foi num tom de muito saudosismo, de pessoas que viveram aquela época e que hoje se lembram dela com alegria. Uma vez eu li que a última década marcante, com propriedades intrínsecas, foi a de 90, depois dela tudo se perdeu, virou pós-moderno e sem identidade. Eu penso quais lembranças nós vamos levar adiante pelo fato de vivermos nessa época de agora pós-anos 2000. Não é possível que não se leve nada, mesmo que você viva trancado em casa dentro da internet já é um tipo de vivência que gera memória. Eu só me questiono se ela seria tão relevante como foi, em se tratando de Brasil, a jovem guarda dos anos 60, as discotecas dos anos 70, as cores dos anos 80 e o começo do fim com a quebra de paradigmas dos anos 90. Quem sabe daqui 20, 30, 40 anos o meu eu volte a esse mesmo texto e escreva uma réplica, uma conversa de mim comigo mesmo para que eu possa avaliar o quanto acumulei de memória nesse meio tempo.

    Até lá, segue uma frase que pensei enquanto assistia ao programa:

    Seja a lembrança que você quer ter.



-G-
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