Eu passei por um momento curioso há pouco na rede social de microblogues Twitter.
O roteirista Dan Slott (que atualmente escreve Superior
Spider-Man) estava respondendo tweets sobre Batman. Alguém havia comentado
sobre o Cavaleiro das Trevas ter matado, no que o escritor ressaltou: o Batman não mata. Ninguém. Então eu comentei para a minha timeline: ainda existe gente
que acredita que o Batman mata (geralmente é quem não lê quadrinhos e que acredita que numa
luta entre o Cruzado Encapuzado e o Superman, o kriptoniano venceria porque “ele
é super e o Bruce Wayne é só um humano”).
Daí, vieram me dizer que o Batman já matou sim: na última
página de A Piada Mortal. Quem diz isso se baseia no que afirmou Grant Morrison numa entrevista. Ele confirma o assassinato, só que o desenhista deixou isso de forma tão sutil que foi imperceptível durante anos. Curioso é que ele não participou da concepção dessa obra em específico, apesar de, sim, já ter trabalhado em outras do morcegão; bem como o fato de que ele é famoso por ter opiniões polêmicas sobre o mundo dos quadrinhos, como por exemplo: "Batman é muito, muito gay". ABAFA!
A famosa página (abre em nova guia pra aumentar) |
Nessa hora, o discurso, enquanto fenômeno linguístico, de quem trabalha na área é o que
vale. Não tem como ir contra, é isso mesmo e fim de papo. Eles são profissionais e sabem o que dizem, é o senso comum.
Mas onde fica a leitura crítica? Onde fica o questionamento,
o pensar? E mais, até que ponto isso tangencia, ou até mesmo invade, a área
destinada à mera teimosia?
Eu não sei.
Eu sei que o Batman é um personagem quase secular. Nesse
meio tempo, ele foi trabalhado por centenas de autores, todos eles seguindo o
mesmo código de conduta de não matar. Então, por que haveria uma ruptura dessa
visão clássica da atitude dele? E mais, se fosse para que houvesse, porque
seria tão, mas TÃO sutil como foi na HQ? E mais, por que os profissionais da
área só confirmaram a morte quando da comemoração dos vinte anos da obra? Um
lado de mim acredita que foi por marketing para que se vendesse mais dela na época em questão (quem pode negar?).
Mas voltemos à crítica e à teimosia. Eu não posso discordar
da visão do autor? Veja, se fosse algo claro, explícito, tudo bem, não haveria margem
para dúvida. Mas não foi o caso. É a mesma coisa que no Dom Casmurro: Capitu
traiu ou não o Bento Santiago? Não dá pra saber. Existem estudos que comprovam
e que negam o fato, mas no fim, não se sabe ao certo. É a mesma coisa com Piada
Mortal. Porém, no caso, os autores ainda estão vivos, e opinando.