Desde a última madrugada a internet foi sacudida por mais um alvoroço. Na manhã de ontem foi sobre o preço do PS4 e ao fim do dia e começo do outro foi o caso do Instituto Royal que, segundo ativistas, estava matando beagles que usavam em testes. Não vou me estender nesse ponto, você já leu sobre tudo isso por aí. Talvez até viu uma nota de trinta segundos nos jornais da televisão comentando o ocorrido.
Mas aí, curiosamente, meu pai me trouxe o jornal do dia da cidade. Jornal impresso você sabe como é, uma notícia que aconteceu de madrugada não tem como estar impressa a tempo na edição que chega às casas e bancas poucas horas depois. Digo curiosamente porque, apesar de 50% do jornal ser propaganda, na página 2 tem o editoral, como sempre, e este falava sobre o câncer ser o mal do século e quantas pessoas precisavam morrer para que se chegasse à cura dele. Certo. Na página 5 tem uma coluna de uma mulher que escreveu sobre a humanização da saúde, que essa era utópica. Ela deu ainda o exemplo comparativo do hospital veterinário da cidade que trata os animais de maneira melhor que "as pessoas que são usuárias do SUS e que vivem sendo jogadas de lá para cá sem ao menos ter um alento para sua dor no trato enquanto pessoa" (sic).
Aí eu tive que parar com esse jornal porque era coincidência demais tantos assuntos interligados e só eu pra fazer alguma conexão nesse textinho.
Pois bem. De todos os achismos que você já leu por aí, aqui vai mais o meu, na minha ignorância: tratamento em animais é um mal necessário. Mas eles não precisam ser maltratados como os beagles do Instituto Royal (e que a diretora afirmou para as câmeras da tv que não eram).
Mas o meu ponto de verdade é sobre a valorização da vida e o que isso quer dizer. Explico: é mais importante a vida de um beagle ou de um ser humano? Tem gente com a resposta na ponta da língua, mas deixa eu dizer: ambas as vidas são importantes (menos a dos pernilongos, esses eu mato mesmo). SÓ QUE: um cachorro tem uma expectativa de vida menor que a do ser humano. Um cachorro vive, chutando muito alto mesmo, vinte anos, enquanto o ser humano muitas vezes passa de cem. Veja, eu trago isso porque eu não vi esse argumento em nenhum lugar (e olha que eu li muita coisa nessas últimas horas). As pessoas defendem os animais, e eu dou razão, mas existe uma lógica para eles serem usados em pesquisa antes de serem aplicadas em humanos. Eu não sou contra testes em seres humanos, afinal, o uso final vai ser nele mesmo. Mas, de alguma forma, os institutos preferem testar em animais menores antes de chegar ao paciente-destinatário-final, o que acarreta um problema.
O problema disso tudo é a supervalorização da vida humana. Um dos piores argumentos é: "o homem é o topo na escala evolutiva, somos animais racionais". Como se isso fosse um atestado para fazer qualquer atrocidade com outras vidas. A gente coexiste, somos só mais uma espécie entre as tantas de milhares que vivem sobre o planeta terra. Só que a gente tem mania de grandeza. Só porque a gente pensa (melhor?) que todos os outros animais, a espécie humana às vezes acredita que tem seu lugar ao sol para fazer o que quiser. Não. O nome bonito disso é: antropocentrismo, o homem como centro e acima de tudo.
O assunto é longo e poderia render muito mais (problemas do SUS, a mulher que vive num mundinho cor de rosa que não sabe quantos outros animais são maltratados, todos os itens que nós usamos e consumimos que antes foram testados em animais, quais outras alternativas seriam possíveis para evitar esse tipo de teste, porque os ativistas só se preocuparam em recuperar bichos fofos tipo beagles e coelhos mas deixaram os ratos pra trás, o papel sacana da justiça que vai condenar quem adotou os bichos que iriam morrer, etc), mas eu não quero me alongar.
Veja, eu sei que soa hipocrisia. Eu como carne e até tenho uma jaqueta de couro de que gosto muito. Tá, talvez seja hipocrisia. Tá, é hipocrisia. Mas mesmo assim, eu não vim converter ninguém, eu não vim mostrar foto de bicho faltando pedaço, não vim dizer que a gente precisa fazer alguma coisa ou entrar pra uma ONG ou nada.
Só vim ressaltar a mania de grandeza do homem. Inegável.
-G-
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