quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Texto



     O cursor piscava em seu bloco de notas, e ele não fazia a menor ideia sobre o que escrever. Abriu abas no vagedaor, viu algumas atualizações. Esperou, procrastinou, ouviu um som. Nada ainda. Olhou em volta, viu outras pessoas compartilhando os computadores da faculdade. Facebook, Gmail e Word, os queridinhos da galera. Disse "droga!" uma porção de vezes. Não sabia sobre o que escrever, apenas que precisava.

     É tão engraçado, faz tempo que ele queria escrever alguma coisa, qualquer coisa. Na sua cabeça havia ideias, temas, até um ou outro parágrafo relativamente bem argumentado. Mas quando se senta e olha aquele cursor piscando, as ideias desaparecem. Vai entender, talvez esteja aguardando um editor de texto onde o curso não fique piscando, segundo a segundo, como quem faz uma cobrança implacável, a cada vai e vem é uma cutucada no ego do autor. "Você ainda não escreveu nada. Nem agora. Nem agora. Nem agora."
     O que também ocorre são de reflexões que surgem e somem. Droga, no banho é fácil delas aparecerem, mas então ele sai do chuveiro, e na hora de se enxugar elas se vão. Do tipo que ficam ali, na toalha. Existe bloco de notas (desta vez físico, e não o programa do Windows) resistente a água para se escrever durante o banho, é verdade. Mas isso é gringo. Ainda não é prático o suficiente pra todo mundo que sente o desejo inesperado de escrever, misturado a uma vontade com toques de necessidade.


     Talvez ainda, ele quisesse apenas passear os dedos pelo teclado, como um pianista. As palavras vêm, o dedos vão, e assim é composta uma melodia de notas "tectectec" num teclado, palavra que é até mesmo homônima àquela do músico. Não é muito bonito, principalmente quando não se sabe digitar bem, mas, é o suficiente para gerar alguma sensação. Coisa de gente louca, só pode ser.

     Voltando ao tema, sobre não saber o que escrever, dizem que isso é um exercício. Quanto mais se escreve, melhor se escreve. E que para se ter idea do quê escrever, é necessário leitura. Mas que tipo de leitura, cara-pálida? Jornais, revstas, comics, biografias, livros acadêmicos... "leitura"  é um termo muito vago, pode ser qualquer coisa. Do jeito que estamos, não deve demorar pra surgir uma literatura de tweets, visto que já existem livros com frases de famosos 140 caracteres. E não basta ler, ainda por cima se faz necessária uma reflexão sobre o assunto. Que nem aquela tirinha dos caras que diziam ler Nietzche, Sartre, Schopenhauer, mas apenas isso, apenas liam, pois no segundo quadrinho quando eram perguntados sobre o que pensavam sobre esses autores, no terceiro eles respondiam novamente que liam Dostoiévski, Kant, Foucault. Ler por ler qualquer um o faz.




    Raciocinar sobre a nova informação, e por que não contestar ela, aí já muda muito. Claro, é preciso saber quando fazer isso, contestar tudo, todos a toda hora pode fazer do cara uma pessoa chata. Agora, em casa, vendo o Jornal Nacional, não vejo problema em ter objeções sobre o que o tio Bonner diz.

     Então, estava meio perdido. O fluxo de informação é tão grande, todo mundo sabe um pouco de tudo, e isso não é suficiente para se afirmar como real entendedor de coisa alguma. Muita informação sendo bombardeada por todos os lados em que se olhe. Talvez ele apenas tenha que focalizar a torrente de dados que recebe. Talvez seja mesmo uma questão de prática. Talvez, finalmente, ele devesse escrever sobre não conseguir escrever. Foi o que eu fiz.

-G-
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Um comentário:

  1. Adorei! Sentimento compartilhado. Adorei a imagem do bloco a prova d'agua - quero um!

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