sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Rage Sex

    Sexo é bom até quando é ruim, dizem. E fazem. Em geral, o brasileiro vive num ambiente altamente sexualizado desde tenra idade. A criança acompanha o pai até um bar onde tem cartazes de cerveja com mulheres gostosas, usando pouca roupa, que provavelmente não bebem cerveja. No caminho para casa, um outdoor com a capa da Playboy do mês. Enfim em casa, o simples horário de veiculação dos programas de TV não é suficiente para evitar que estes sejam vistos pelo pequeno.

    Não quero ser careta ao proibir esse tipo de veiculação e nem soar alarmista dizendo que todo mundo só pensa em sexo, mesmo antes de saber o significado dele. É preciso que o tema não seja tabu nas famílias, havendo um jogo aberto e sem represálias a pessoa consegue se desenvolver mais consciente de tudo o que o cerca nesse fascinante mundo sexual.

    Nem sempre isso é suficiente e ainda assim as pessoas pensam com suas genitálias, seja pela mentalidade, seja pela idade, seja pelo instinto materno/paterno, o que for. Ao agir assim acaba-se na banalização do sexo. Não que seja um problema, de novo, as pessoas fazem com seus corpos o que bem entendem. Só que é exatamente aí onde eu quero chegar: geralmente elas não entendem, não sabem o real motivo de agirem de tal forma.

    Não sabem pelo fato que sexo não é só o esfolamento de virilhas. É bem mais profundo que isso, com o perdão do trocadilho heterocômico. Exige algo que pouquíssimas pessoas têm, ainda mais com tão pouca idade: autoconhecimento. E eu não digo apenas físico, que se resolve, a priori, com masturbação. Eu digo um autoconhecimento real, bem dentro do pensamento mais íntimo e obscuro do consciente. Sexo é uma manifestação afetiva dos corpos e em se tratando de afeto, por mais amplo que possa ser, obrigatoriamente se trata de sentimentos e sentimentos são difíceis de lidar.


    Com isso, muita gente acaba por transar de maneira errada. E ainda assim não acham de todo mal, porque, como abri o texto, sexo é bom mesmo quando é ruim. Dois pontos são importantes de se ressaltar: primeiro, quando se transa de maneira errada é fácil perceber. Não digo casos de impotência sexual ou aqueles em que o cara só pensa em si mesmo e acaba por se masturbar com o corpo da mulher, ou ainda, quando algum ou nenhum dos dois ou mais não goza. Eu digo o momento depois do ato. Veja, um dos sentimentos mais sinceros que existe é o da fome. Outro que se encaixa nessa característica é o "sentimento pós-sexo, havendo orgasmo ou não". É no momento em que a poeira abaixa, os corpos relaxam, quando, possivelmente, se coloca para fora num orgasmo toda a energia vital acumulada, é nesse momento que as coisas voltam onde realmente deveriam estar dentro de nossas cabeças. "Uau, foi muito bom, essa é a pessoa da minha vida" ou "o que eu estou fazendo aqui?!". Somente nesse momento essas perguntas são respondidas. Durante o ato é improvável.

    O segundo ponto, que eu abri no parágrafo anterior, diz respeito ao uso do sexo enquanto arma, motivo do título deste texto. E quando eu digo arma eu não digo com o intuito de ferir um terceiro, muitas vezes nós machucamos nós mesmos sem querer achando que faríamos algo correto naquela transa arrependida. Embora tenha quem use sim como maneira de ferir outra pessoa, do tipo "ele me traiu e agora eu vou dar pro melhor amigo dele". Como se fosse evitar a traição consumada ou ainda que fizesse o parceiro voltar a gostar da pessoa traída, supondo que um dia gostou. Não vai. Mas o sexo, ele é extremamente íntimo, e a traição mais dolorida é aquela que ataca tão interiormente. Ao usar como forma de se ferir a si mesmo, a analogia vale com uma droga: é algo que te faz bem num primeiro momento mas com consequências ruins, inconscientes ou não. Só se sabe tentando.

    Mas então, como evitar passar por tudo isso citado? Como saber quais pessoas valem a pena, como não se arrepender, como fazer direito? Existem dois caminhos e um leva ao outro como se fosse uma serpente mordendo a própria cauda. O primeiro, já disse, é o autoconhecimento. Saber o que se quer e o que se pensa, o que não é nada fácil. O segundo é o método das tentativas e erros. Enquanto não vem a pessoa certa a gente tenta com a errada, né? Por outro lado, esse segundo método já é bem mais simples. O primeiro método faz com que haja aproximação de pessoas para haver o segundo método ao mesmo tempo que o segundo faz a pessoa refletir e se conhecer, como proposto pelo primeiro.

   Bom, eu não sou sexólogo, muito menos tenho grande sexperience. O que eu tenho, sim, é consciência de que com grandes poderes vem grandes responsabilidades. E mexer assim tão forte no nosso psicológico, até mesmo afetando o convívio cotidiano, é inegável que o poder do sexo não tenha sua parcela de responsabilidade. Sei, ainda, que sentimentos são complicados dentro de cada um, então, ao se envolver num relacionamento são duas (ou mais) pessoas duplicando (ou mais) a complicação sentimental. Por fim, não é na juventude que a gente aprende isso, salvo raras exceções, fora aqueles que acham que sabem mas na verdade mudarão o pensamento daqui um tempo. Não, leva uma vida inteira pela frente. E nós ainda temos uma para aprender.



-G-
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Um comentário:

  1. A problemática da coisa está nas diferenças entre o que o sexo é e o que a gente acha que ele é. Cada um põe um significado diferente em cada ato seu, e isso a cada momento.

    Me lembrei de uma cena* em Vanilla Sky, quando a personagem da Cameron diz pro do Cruise:
    - I swallowed your cum! That means something!
    Dizem que o que vale é a intenção. Sim, ela vale: para o emissor. Para o receptor, o que vale é o efeito. Apenas um pequeno desentendimento. Nada que a empatia (Leia-se: o sentimento de culpa.) não resolva.

    * http://www.imdb.com/title/tt0259711/quotes?item=qt2036291

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