quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Batman matou mesmo no fim de Piada Mortal?

    Eu passei por um momento curioso há pouco na rede social de microblogues Twitter.

    O roteirista Dan Slott (que atualmente escreve Superior Spider-Man) estava respondendo tweets sobre Batman. Alguém havia comentado sobre o Cavaleiro das Trevas ter matado, no que o escritor ressaltou: o Batman não mata. Ninguém. Então eu comentei para a minha timeline: ainda existe gente que acredita que o Batman mata (geralmente é quem não lê quadrinhos e que acredita que numa luta entre o Cruzado Encapuzado e o Superman, o kriptoniano venceria porque “ele é super e o Bruce Wayne é só um humano”).

    Daí, vieram me dizer que o Batman já matou sim: na última página de A Piada Mortal. Quem diz isso se baseia no que afirmou Grant Morrison numa entrevista. Ele confirma o assassinato, só que o desenhista deixou isso de forma tão sutil que foi imperceptível durante anos. Curioso é que ele não participou da concepção dessa obra em específico, apesar de, sim, já ter trabalhado em outras do morcegão; bem como o fato de que ele é famoso por ter opiniões polêmicas sobre o mundo dos quadrinhos, como por exemplo: "Batman é muito, muito gay". ABAFA!

A famosa página (abre em nova guia pra aumentar)
    Nessa hora, o discurso, enquanto fenômeno linguístico, de quem trabalha na área é o que vale. Não tem como ir contra, é isso mesmo e fim de papo. Eles são profissionais e sabem o que dizem, é o senso comum.

    Mas onde fica a leitura crítica? Onde fica o questionamento, o pensar? E mais, até que ponto isso tangencia, ou até mesmo invade, a área destinada à mera teimosia?

    Eu não sei.

    Eu sei que o Batman é um personagem quase secular. Nesse meio tempo, ele foi trabalhado por centenas de autores, todos eles seguindo o mesmo código de conduta de não matar. Então, por que haveria uma ruptura dessa visão clássica da atitude dele? E mais, se fosse para que houvesse, porque seria tão, mas TÃO sutil como foi na HQ? E mais, por que os profissionais da área só confirmaram a morte quando da comemoração dos vinte anos da obra? Um lado de mim acredita que foi por marketing para que se vendesse mais dela na época em questão (quem pode negar?).

    Mas voltemos à crítica e à teimosia. Eu não posso discordar da visão do autor? Veja, se fosse algo claro, explícito, tudo bem, não haveria margem para dúvida. Mas não foi o caso. É a mesma coisa que no Dom Casmurro: Capitu traiu ou não o Bento Santiago? Não dá pra saber. Existem estudos que comprovam e que negam o fato, mas no fim, não se sabe ao certo. É a mesma coisa com Piada Mortal. Porém, no caso, os autores ainda estão vivos, e opinando.

    Do mesmo jeito que se estuda literatura e questões de autoria, estuda-se quadrinhos. Fazem análises psicológicas profundas sobre diversos personagens. E isso é comum em se tratando de gente que vive em meio à loucura que é Gotham. Até o próprio Batman não é lá o melhor exemplo de sanidade.  Quase tudo na vida é dual, vem aos pares, e a relação dele com o Coringa é mais uma. São Yin e Yang. Lado A e lado B. Um não pode matar o outro, e não foi por falta de oportunidade de ambos os lados que isso não aconteceu. Ainda, um precisa do outro, e é por isso que essa guerra é sem fim. Até porque, se os heróis derrotassem todos os vilões as editoras de quadrinhos teriam um ponto final. Daí a criatividade de se reinventar com o passar de tanto tempo para que não se caia na mesmice. Olha o que o Geoff Johns fez com o Lanterna Verde, por décadas ele criou toda uma mitologia e fez o personagem ser interessante.

    Fui atrás de um blog que conheço que trata só do Morcego. Lá pelas tantas, vi um comentário interessante: “a história é do Alan Moore. Sendo assim, pode acontecer qualquer coisa”. Então, para validar o assassinato, era para que esse conceito estivesse latente durante toda a leitura e que qualquer coisa pode acontecer (incluindo o estupro da Barbara pelo Coringa). Apesar disso, o autor nunca deu tamanha importância para a obra ("são apenas dois personagens de quadrinhos" e a série faria parte da cronologia oficial. De fato, sob esse ponto de vista, em cima desse muro de poréns, o Batman poderia ter matado o Coringa. Mas ainda não responde aos meus questionamentos de: até que ponto todos esses reveses podem dar crédito ou ir contra o que eu e você lemos na última página? Até que ponto tudo isso pode corroborar com “o que o autor quis dizer” versus “o que eu li”?

    Ora, sinceramente, eu acho que somos livres para interpretar do jeito que quisermos. É mais interessante ainda conseguir trazer pontos de vista fora dos que estão escritos(/desenhados) porque indica que se consegue enxergar além. É um esforço de resignificação do mundo pelo simples fato de que é possível fazê-lo. 

    Onde está escrito que é errado?

    PS: agora que eu reparei na página do quadrinho que está aqui no post, no quarto quadro tem algumas luzes se aproximando, seguido de uma onomatopeia "VWWWWEEEEEEEEE". Parece ser um carro com sirene, ela é inegável, mas não se sabe se seria uma viatura, uma ambulância, ou qualquer outro veículo, pois existem apenas luzes amarelas e ainda por cima dispostas de um jeito que não parece ser comum a faróis de carros. De qualquer forma, era alguém chegando, o que reitera que não faria o menor sentido haver um assassinato sendo que testemunhas estavam a aproximar.



-G-
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...